A viagem de Palma (Parte III)
O dia ainda não tinha acordado em Fuengirola quando o BACCUS LIBER se fez ao mar. O Douro tinto da véspera era mesmo de boa colheita, razão pela qual os hálitos estavam afinados, não havia olheiras de “mau-dormir” e a boa disposição era reinante. O destino e o ETA seria o que fosse, pois a ameaça do tempo e a incongruência das previsões assim o ditavam. A única preocupação era somar milhas e mais milhas rumo às ilhas baleares. Se abrisse borrasca, encostaríamos a uma marina, que é coisa que não falta nas costas da Andaluzia, apetrechadas de boas esplanadas. Se o São Pedro colaborasse e o nível anímico se situasse acima dos 65%, porque não parar em Formentera. O nível da mercearia a bordo era mais que satisfatório, o nível dos líquidos e fluidos também estava OK, pelo que havia condições para velejar, para fazer umas pescarias de tunídeos e afins e matéria-prima para GIN TÉCNICO. O calor ia aumentando, o vento era constante de 10/15 nós e noite fora fomos rasgando as águas do Mediterrâneo. Com o vento sempre por companhia, íamos adivinhando os saltos de vento, e ora a vela e motor, ora simplesmente à vela, dobrou-se o infindável Cabo de Gata. O armador, sempre confiante nos seus dotes de pesca, ia lendo e relendo um livro japonês, onde era descrito com bastante minúcia a preparação do Atum. Como amanhar o bicho, como escolher as facas correctas, como tirar a pele, etc, eram tudo pormenores que o nosso armador já dominava. Pela manhã, ouvimos o tão desejado Boletim Meteo que indiciava a continuação das condições relativamente favoráveis de vento e mar. Força 4-3 que em linguagem mediterrânica corresponde ao nosso 1-2 de Aveiro. Aportámos em Garrucha ao final da manhã com o propósito claro de encher a mercearia, o “gasoil”, tomar umas banhocas e almoçar de faca e garfo. A ida à mercearia calhou-me a mim mesmo e ao cozinheiro, que atulhámos o carrinho conforme ordens do armador, e nada mais fácil para trazer a mercearia para bordo, que trazer o próprio carrinho de compras. Pouco formal, mas muito muito funcional. A marina de Garrucha é acolhedora, barata, há uma grande superfície a 800mts da marina e muito comércio local. Os preços pareceram-nos relativamente baixos para a zona e para a época. Voltaríamos a sair da marina cerca das 20 horas, com rumo de proa ao Cabo de Palos, para ver o que dava daí em diante. O “ladybird” acompanhava de perto. Passada a noite, foi cumprido o ritual de meter novamente o “corrico” do atum, pois adivinhava-se peixe fresco a bordo. Continuávamos em vela e motor, com um único propósito - somar milhas. O caminho faz-se navegando...
(continua no próximo número)
Sem comentários:
Enviar um comentário